CAPÍTULO I

Zeit ist geld

O tempo é dinheiro

 

APRESENTAÇÕES

Prezado amigo, prezada amiga, seja bem-vindo, seja bem-vinda a este ensinamento. Aqui apresentamos uma maneira diferente para interpretar a realidade: a cosmovisão original (pré-cristã) dos povos norte-europeus. Esta é uma sabedoria holística e permanente que traz em si uma alquimia para lidar com o tempo, transmutando-o em sorte, saúde total, crescimento perpétuo e um intenso sentimento de dever cumprido.

Em sua caminhada ao longo dos milênios, com um vazio imenso no coração e muitas dúvidas na mente, o homem vem procurando algo invisível além de si e do conforto material, um estado superior livre de corrupção. Movidos por tal vazio existencial a buscar algo indefinível, fabuloso e mágico (casualmente chamado de Deus, verdade ou realidade), nós, sem grande sucesso, vamos a todos os lugares, batemos em todas as portas, fazemos perguntas e damos ouvidos a incontáveis pessoas, tentando obter informações que atendam aos nossos questionamentos. É precisamente essa necessidade natural e universal (tão íntima a todo ser humano) que traz você aqui.

Esse início pode surpreender, afinal, aqueles que até agora descreveram a tradição nórdica (filósofos, historiadores, religiosos e pagãos) sempre tiveram o interesse traiçoeiro de retratá-la como uma piada, uma chacota, uma cultura atrasada, sem vida, sem utilidade no cotidiano ou ainda (para desencorajar os mais intrépidos) uma coleção infindável de narrativas discrepantes e deuses com nomes impronunciáveis. Pois bem, todas essas versões sem serventia, repletas de calúnias e baboseiras passam para um segundo plano. Os gracejos idiotas e os deboches dos ignorantes saem de cena. A partir de agora, por uma perspectiva adulta, vamos iluminar e trazer de volta um tema seríssimo que pode nos levar à suprema realização.

Quando estudamos o pensamento dos antigos povos do norte e sua percepção de mundo, cometemos o erro de procurar mesmice: desejamos aprender “um pouquinho mais” para juntar ao que já sabemos. Nós temos uma ampla bagagem de informações a respeito das religiões atuais e, ao observar a sabedoria antiga, achamos que se trata da mesma coisa. Pensando desta forma, sempre chegamos a resultados viciados. O politeísmo tem duas portas de entrada. A primeira delas é aberta. A segunda é secreta. Na porta aberta há uma rica mitologia de deuses e enteais. Se entrar por ela, você vai se deparar com histórias voltadas para a educação infantil. Não vai encontrar algo consistente (mandamentos, regras, exercícios e tarefas). É por esse motivo que nos dá a impressão de que a doutrina politeísta tem uma mensagem ultrapassada, irrelevante e sem alma, desprovida de qualquer aplicação prática.

O interessado, compreensivelmente decepcionado com a profusão de mitos, se pergunta: “Tudo muito bonito, porém, se não me é dado nada para praticar, em que essa cultura vai mudar a minha vida ou ajudar a resolver os meus problemas ou, ao menos, me trazer algum benefício? De que me adianta saber os nomes dos deuses se eu continuo perdido, sofrendo de medo e desilusão? A minha urgência é descobrir algo útil e permanente, maior que a rotina de comer, beber, dormir e envelhecer, então, para que vou perder tempo com fábulas?”. Se até agora você também tinha essa opinião, prepare-se para uma reviravolta, porque aqui abrimos a outra porta, a secreta.

A mitologia é uma pequena fração (talvez um centésimo) do universo politeísta, apenas a ponta visível de um iceberg. Fazendo papel de fachada, ela esconde uma doutrina avançadíssima, requintada, inovadora e essencialmente prática. Saiba que, ocultas nas sagas mitológicas, estão as diretrizes mais contundentes e funcionais para realizar os nossos projetos.

O começo dessa reviravolta é a experimentação e o teste científico, isto é, aprendizado por meio da observação, isento de preconceitos e crenças. No politeísmo, o objeto de estudo é o próprio ser humano, porque dentro do indivíduo está a to-talidade. Quem passa a se observar e a se descobrir adquire a força psicológica dos deuses e se torna invencível ante as dificuldades, injustiças e tempestades da vida. Tomando ciência de si, conhecerá por tabela o Universo.

 

OBJETIVOS

O homem sempre indagou: “Qual a finalidade de tudo isso? Qual a razão fundamental da existência?”. Aprisionado em diversos problemas, lutas e conflitos e percebendo a enorme confusão reinante no mundo, as guerras, as irreconciliáveis divisões na religião e nas nacionalidades, pergunta o que é preciso fazer e se existe algo acima da rotina diária. Por que precisamos nascer, viver sem muita significação, envelhecer e morrer sem consciência? Alguns intuem que nós estamos aqui a fim de “cumprir uma missão”, mas, afinal, o que vem a ser essa “missão”? Por que a maioria das pessoas, em suas conversas, interessa-se tanto em saber se os outros acreditam ou não acreditam em determinados conceitos? Por que as religiões se enfrentam entre si e lutam para recrutar seguidores?

Todo indivíduo inteligente deseja lançar luz sobre essas questões, seja movido por uma curiosidade passageira, seja movido pelo intuito de estabelecer uma compreensão mais profunda. Estes e inúmeros outros assuntos estarão em nosso radar. Vamos decifrar juntos a informulável complexidade da existência e as influências cósmicas que nos atingem. Investigaremos os múltiplos fenômenos, primeiro em nós e, posteriormente, as consequências externas. Vamos discorrer a respeito dessa coisa viva, que somos nós, em todos os aspectos.

Aqui não tem um amontoado de fábulas sem utilidade e muito menos um repeteco de ideias surradas. Fique tranquilo, fique tranquila. Compatível com os tempos de realidade virtual, ciberespaço, robótica e inteligência artificial, o conhecimento que vamos compartilhar é diferente de tudo que já foi visto. Não está baseado em nenhuma tradição ou religião revelada, não tem paralelo com outras cosmovisões nem semelhança com nenhum modelo filosófico conhecido. Portanto, desde agora, toda e qualquer comparação deve ser rechaçada. Estamos tão acostumados com repetições, plágios, mesclas, imitações e cópias, que achamos impossível uma sabedoria sem vínculo ou correspondência com as demais. O objetivo aqui é revelar a cosmovisão norte-europeia sem as interpretações fraudulentas da mitologia e corrigir o erro histórico.

A tradição germânica sempre recomendou a curiosidade, a investigação direta e o autoconhecimento: que o indivíduo conheça a si e a sua missão, seus sonhos, potencialidades e deficiências; coerência entre palavras e ações; apreço à natureza e à condição humana; civilidade sem ameaças, socorros ou promessas sobrenaturais. Esses são os melhores meios para combater a credulidade, a falta de consciência, o obscurantismo e a decadência. De fácil observação e confirmação, totalmente funcional, aplicável a todas as épocas e irrefutável por qualquer ponto de vista, este ensino tem efeitos surpreendentes na liquidação dos sofrimentos. Você faz uma imersão voluntária e entra na revolução que a atitude politeísta produz – a única revolução que pode tornar o homem mais feliz.

Como há inúmeras concepções errôneas, ideias fantásticas e tanta esperança sem fundamento, é urgente esclarecer que determinadas abordagens não procedem. A dúvida mais insistente (Você acredita em deuses?) não faz sentido, porque o politeísmo é uma técnica, tem sua própria dinâmica e segue uma lógica diferente das crenças religiosas. Na compreensão politeísta, não há nada para ser acreditado ou desacreditado. Não estamos diante de questões de crença e menos ainda de alegações que exigem fé. Seguidamente a ordem natural nos lembra que, se não vemos certos eventos espirituais, é porque saber deles não é uma necessidade imediata. Nós insistimos em desprezar essa lição. É preciso observar os fenômenos que ocorrem na frente dos nossos olhos. Se treinarmos nessa parte visível, teremos acesso ao invisível, sem pular etapas. Para isso, é indispensável sair da ilusão que nos impede de enxergar.

Por um lado, esta riquíssima sabedoria induz a harmonia com as leis universais. E, por outro lado, jamais foi uma teoria conformista. Vendo os incessantes combates nos relatos mitológicos, percebemos claramente que o politeísmo é uma guerra implacável e ininterrupta contra todas as tendências que determinam o envelhecimento, a queda e a destruição.

Estamos realmente determinados a considerar assuntos tão importantes e tão diversificados? As chaves estarão à disposição. Você será capaz de estabelecer a ordem e a clareza de raciocínio, aperfeiçoar os seus sentidos; verificar, à luz da razão, outras realidades e compreender o funcionamento do tempo e das leis naturais. Você, caro amigo, você, cara amiga, agora (e em todos os instantes) irá às descobertas aplicando a sua atenção e colhendo resultados. E se, no decurso destas investigações, pudermos encontrar a iluminação dentro de nós e formos capazes de uma transformação radical, então, os esclarecimentos aqui expostos terão sido úteis de fato.

 

Texto de ZEITGEIST – Os deuses do tempo