Obviamente, ao nascer, o ser humano não tem como fazer um juramento de Balder, já que é um bebê e não fala. Ao bebê basta o sal embaixo da língua.
O juramento de Frigga tem o amparo da natureza e é para ser feito ao completar sete anos. Ao contrário do que o seu nome pode sugerir, ele se relaciona à masculinidade e é feito só pelos filhos homens. A menina sabe desde o nascimento a função que vai representar na vida e não precisa empenhar a sua palavra neste sentido.
O caso do homem, por ser diferente, merece uma especial atenção. Em comparação com a mulher, ele está muito desfavorecido, visto que traz de nascença inúmeras desvantagens que precisam ser compensadas. Desde cedo, começa a ser prejudicado em todos os campos e circunstâncias.
Chegando aos sete anos, o menino passa a estar submetido às vibrações passivas de Frigga, isto é, nessa idade ele entra num período crucial (e até mesmo perigoso) de sua vida, pois durante sete anos estará submetido a contínuas doses de vibrações femininas, cujas influências podem se estender por décadas e, se depender delas, ele tem todas as possibilidades para crescer, esquecer o seu papel e tornar-se um tapado, pusilânime, indeciso, apático, indolente e inconstante. Nenhuma esposa, por mais prestativa que seja, conseguirá cooperar com um homem nessas condições. Se o homem estiver perdido, indiferente, inseguro e sem o interesse em avançar, a mulher não terá o que fazer em seu favor.
Além disso, dos sete anos em diante, o garoto pede permissão para tudo e, dependendo das proibições dos adultos, ele poderá passar a crer que não é merecedor do bom da vida, que não tem capacidade para tomar as rédeas do destino ou realizar os seus sonhos e, por conseguinte, que precisa crescer e aceitar passivamente só o que a vida lhe reserva.
Na infância, o homem ignora a sua função. O papel masculino (estar na vanguarda e na liderança) não é tão evidente quanto o feminino – não vem manifesto de nascença. Ser líder não é para medrosos. Estar na vanguarda implica, na maioria das vezes, em não ter ninguém à frente a quem copiar ou seguir. Para o homem, a masculinidade contém em si o magnífico poder de ‘fazer acontecer’ (viver propositivamente e gerar acontecimentos, ou seja, a capacidade de ser senhor das situações).
Quem quiser garantir que o seu filho se converta espontaneamente num líder desde cedo precisa habilitá-lo nesse sentido. Para o menino, o juramento de Frigga constitui a posse da sua identidade como homem, quando ele declara e grita a plenos pulmões que É homem. Ao formalizar em palavras essa transição (que está evidente na natureza), ele conquista a masculinidade e a partir daí não corre mais o risco de crescer e virar um zé-ninguém ou uma vítima passiva. Permitindo que o menino enfrente incólume os sete anos mais decisivos da existência, esse juramento é a forma perfeita, que jamais houve em qualquer outra tradição, para vencer as tendências dissolventes da deusa.
Para o garoto nesta idade, é a maior glória declarar-se homem, pois está numa fase na qual se distancia do universo feminino e passa a gostar de tudo que se relaciona ao mundo masculino. No momento em que faz esta afirmação, ele começa a se desligar das abstrações da infância e vai assumindo o papel de líder, e os pais se sentem realizados por terem desempenhado muito bem a sua missão. Ninguém quer se arriscar a ver o próprio filho se convertendo pouco a pouco num fracote (moralmente falando) sem poder fazer nada para contornar tão cruel destino.