OS JURAMENTOS GERMÂNICOS – SEGUNDA PARTE

Proteger e evitar que os filhos cometam erros graves é função dos pais, entretanto estes não cumprirão bem essa função e precisam se conformar com isso, pois aqueles necessitam ter suas próprias experiências, por mais amargas que sejam. O pai e a mãe acreditam que terão vínculos vitalícios com os filhos. Isso não acontece de um modo automático. O filho (ou a filha) é outro indivíduo e pode perfeitamente se tornar um(a) ingrato(a), um(a) inimigo(a) ou até mesmo um(a) carrasco(a) do pai ou da mãe. Ao completar 14 anos, os jovens começam a ser retirados do “mundo da lua” de Frigga e são lançados na realidade adulta de Tyr. Chega a hora de fazer o juramento mais decisivo da vida, quando o rapaz e a moça dão a palavra que irão defender os pais, a família e os antepassados e se comprometem com a continuação. Nesta altura, passam a sentir as influências do deus original do combate, do céu, da justiça e dos juramentos. Começa a individualização na qual a intenção de ser independente se intensifica e leva ao mundo adulto.

Tyr é um dos grandes deuses do Asgard, e a sua invencível espada, forjada pelos anões, é o símbolo de sua divindade. Esse deus é precursor de Wotan, exatamente como o desenho 16 mostra. Filho de um titã, Tyr passa a ser considerado filho de Wotan devido à sua incrível bravura. Capaz de consumar loucuras e sacrifícios em prol da humanidade e dos deuses, Tyr é representado por um guerreiro sem a mão direita, a qual ele perde na missão de aprisionar Fenrir. Os moços devem pensar mil vezes antes de cometer a transgressão que mais acarreta punições implacáveis (a ingratidão para com os antecessores). Os episódios da mitologia mostram Tyr pagando um preço exorbitante (e para sempre).

O episódio do lobo demonstra que Tyr paga para sempre, de uma forma cruel, por um pequeno erro. Neste delicado aspecto os pais têm, desde muito tempo antes, responsabilidades fundamentais de coletar os juramentos e de informar com clareza à mente subconsciente dos filhos os papéis de continuação. No juramento de Tyr, a pessoa firma um compromisso com os próprios ancestrais e dali para frente deixa de ter atitudes passivas e se foca em crescimento perpétuo. Quem tem medo de fazer o pacto desse deus? Não é um pacto de fidelidade para com uma religião ou facção mafiosa, mas com a natureza do Universo.

Na concepção germânica, a terra média é uma condensação das leis naturais do extramundo. E aqui na terra média, percebemos a natureza inteira desafiando o envelhecimento e se ocupando com a expansão da vida. O politeísmo não busca apoio, respaldo ou corroboração nas teorias mais recentes (a religiosa e a científico-mecanicista), porém elas, cada qual à sua maneira, também falam de crescimento e expansão, seja como um fundamento, seja como uma mera explicação de algo normal que está aí. Como elas são antagônicas ao politeísmo, não se sabe se isso é uma coincidência. A visão politeísta é muito mais abrangente e avançada porque preconiza o progresso e o desenvolvimento como mandamentos obrigatórios oriundos do Asgard. A estagnação é uma heresia proibida. A missão para cada um é crescer, avançar e prosperar. Qualquer criança sabe disso. Toda criança quer ser grande. Se é assim, está corretíssimo assinalar esse desígnio em um juramento para que ele nunca venha a ser esquecido, falseado ou relativizado..

 

Texto de ZEITGEIST OS DEUSES DO TEMPO