Um patrimônio alemão da época de ouro do politeísmo ainda existe: o Götterdienst (a atuação dos deuses), modernamente substituído por Zeitgeist (o espírito do tempo). Expressão rica de significados e eixo central da técnica politeísta, o Götterdienst resume a vibração cósmica de cada instante. Toda subdivisão do tempo desenvolve em si a energia do deus correspondente, energia essa que ressoa no intelecto, na emoção e no corpo das pessoas. Cada projeto tem a sua hora propícia, e quem descobre o segredo desse mecanismo passa a entender o mundo, prever acontecimentos e manipular a realidade em seu favor. Quem compreende os fundamentos autênticos do politeísmo adquire uma vantagem sobre aqueles que os ignoram. Quem os aplica no seu dia a dia (alinhando-se aos deuses) está feito na vida e nunca será pobre, pois tudo que fizer dará certo. Isso é o mais próximo que se pode chegar de uma justiça divina, porque é premiado com resultados felizes aquele que conhece o Götterdienst e executa, com equilíbrio e concisão, cada tarefa em seu momento mais favorável.
Os principais deuses do Asgard (Balder, Frigga, Tyr, Wotan, Thor, Freya e Loki), cada qual dentro de seu raio de atuação, favorecem determinadas atitudes e desfavorecem outras. Aí está explicado o motivo pelo qual projetos fantásticos fracassam e levam muito dinheiro para o ralo: são lançados no dia errado ou em uma fração de tempo cujo deus faz oposição àquela proposta. Em contrapartida, há empreendimentos humildes que nascem, florescem, se consolidam e se expandem. Estes são iniciados (ou propositalmente ou por acaso) numa hora ou num dia cujo regente trabalha numa frequência favorável. Isso nos leva a pressupor que não há ideias inúteis ou ruins. O que pode haver são ideias sem maturação ou ideias fora de hora ou fora de contexto e que, por esses motivos, perdem a força e a aplicabilidade. Por estarem fora de hora, a sua execução tende a ser consideravelmente mais custosa e demorada.
Podemos até presumir que as pessoas estúpidas não aceitam isso, no entanto, por incrível que pareça, é justamente o inverso. Quem tem notória má vontade, ao saber o sentido dessa expressão, concorda e fala que acredita. Os inteligentes reagem de um jeito ainda mais satisfatório: de imediato querem descobrir como sincronizar o tempo e a atitude para consumar cada uma de suas ações em seu horário apropriado.
Por mais que a modernidade tenha desconectado a intuição do ser humano, quem entra em contato com o invisível adquire o entendimento de que toda tarefa tem o seu ínterim no tempo. Cada dia, cada semana, cada mês do ano e cada época da vida têm uma frequência vibracional específica. Gradativamente, o Götterdienst perdeu sua significação original e, dada a campanha difamatória, passou a ser entendido como a idolatria dos pagãos. Agora, é o termo Zeitgeist que dá uma vaga ideia a respeito das energias espirituais que se revezam conforme o tempo avança.
Se as vibrações são invisíveis e imateriais, como prová-las, explicá-las e exemplificá-las? Ainda que não as vejamos ou não as sintamos, nós podemos entrar em contato direto com elas a qualquer hora, bastando relaxar e ouvir seu som inconfundível. Cada átomo do nosso organismo vibra do mesmo modo que o Universo inteiro vibra. E tudo que vibra produz, obrigatoriamente, som. Em instantes de silêncio, ao relaxar o corpo para o sono, voltando a atenção para dentro, ouvimos uma sinfonia ou trilha sonora que se apresenta como zumbido, chiado, apito, som de grilos ou som de cigarras. Quanto a exemplificá-las, é muito fácil!!
Ficamos intrigados observando as múltiplas equivalências fisiológicas e comportamentais entre nós e os animais. Também achamos algo fora do comum a reprodução das formas (e das capacidades) humanas em ferramentas, instrumentos, máquinas, robôs e empresas, entretanto, analisando bem, o antropomorfismo é algo absolutamente inescapável. É infalível que as invenções do homem sejam à sua semelhança. É por isso que os nomes dos diversos órgãos do corpo (cabeça, olho, esqueleto, coluna, tronco, braço, cotovelo, mão, perna, pé e outros) servem para designar um sem-número de objetos. Levando este raciocínio para uma etapa anterior, podemos deduzir que, se o homem é do jeito que é, é porque ele está dentro (é uma parte integrante) do ambiente invisível chamado de Asgard ou eternidade. Esse ambiente é anterior à humanidade, sempre existiu e sempre teve as mesmas características que os homens têm hoje. Como é obrigatório que a parte seja igual ao todo, o homem SEMPRE será igual ao Asgard. Nós temos uma leve noção de que o ser humano é a medida de tudo que há no Universo, por conta de um antigo postulado hermético (‘O que está em cima é como o que está embaixo.’). No entanto, isso que “está em cima” (a substância caótica e sem forma, as vibrações invisíveis e leis naturais que nos rodeiam) já estava aí muitíssimo antes da humanidade. É furada a teoria de que nós somos produto de uma evolução cega por milhões de anos. É também furada a suposição de que os nossos ancestrais não entendiam os fenômenos e, por isso, os atribuíam a deuses imaginários. Eles viviam em plena sintonia com a natureza e, se descreviam as suas manifestações com características humanas, era justamente porque as compreendiam muito bem.
Para conhecer as vibrações desse universo maior que nos circunda, precisamos ver de que maneira elas ressoam nos ciclos naturais que nós vivenciamos aqui em Midgard no correr do tempo (horas, dias, meses, anos ou setênios). Como não as enxergamos, só conseguimos interpretá-las utilizando algo antropomórfico (invisível e eterno) extremamente conhecido por nós: as personalidades humanas. A ressonância de cada fração da vida poderá ser entendida perfeitamente se for descrita com a persona de um homem ou uma mulher. É para esse fim específico que nós dispomos dos deuses do Asgard. Quando esmiuçamos as características deles (e de quem nasce sob sua regência), não estamos nos ocupando com bobagenzinhas. Não, não! Muito pelo contrário. É da mais alta importância aferir as manifestações em cada pessoa para compreender como é a eternidade, a sua ressonância e as suas substâncias amorfas. O método burocrático da ciência mecanicista (explorar apenas o universo físico – e já partindo do princípio de que esse universo é algo separado de nós) só pode gerar contradição infinita. No politeísmo, nós fazemos parte da natureza, isto é, somos ‘filhos’ desse universo maior invisível que sempre existiu. Assim sendo, temos as mesmas peculiaridades dele e ele tem peculiaridades idênticas às nossas. Isso quer dizer que, levando em consideração as nossas características, temos condições de observar integralmente os três universos e chegar a respostas satisfatórias.
O tempo que flui num dia não é o mesmo que flui nos dias posteriores. Em cada dia ele se comporta de uma forma diferente, ou seja, não é constante no seu transcorrer. O mais acertado é referir-se a ele no plural (tempos). Uma vez aceito que há vários tempos, se quisermos entender como cada um deles funciona, precisamos nos valer das personalidades humanas. Depois que conhecermos essas personalidades, veremos que, para a compreensão total da natureza, é impossível banir os deuses.
Texto de ZEITGEIST Os deuses do tempo